Story Behind The Song: Merle Haggard, “Mama Tried”

Como disse a PAUL ZOLLO

MERLE HAGGARD: Lembro-me de escrever a primeira linha – “Primeiro lembro-me de saber” – e depois veio tudo depressa. Quase que se escreveu a si próprio. Estava tão bem a descrever a minha vida que senti que talvez estivesse demasiado perto dela para perceber que era boa. Pareceu-me demasiado fácil. Escrevi-o no beliche inferior de um autocarro.

A minha mãe foi deixada sozinha quando o meu pai morreu, e teve uma boa educação, mas nunca tinha sido capaz de a usar, nunca tinha estado no mundo. Ela não sabia conduzir. Andou num autocarro da cidade durante 27 anos e foi contabilista numa empresa de carnes. E aturar-me. Tive muitos problemas. Tinha demasiada energia. Queria saber coisas.

Amava aquelas canções de Jimmie Rodgers sobre andar de comboio de mercadorias, e queria fazê-lo. Por isso, fi-lo. Era suposto ir à escola – eles tinham uma lei de absentismo. Foi aí que começaram os meus problemas. Quando eu tinha 13 anos, pensava que era adulto. Então meti-me em problemas, e eles puseram-me no corredor juvenil, e eu não gostava do corredor juvenil, por isso fugi, roubei carros para fugir, e uma coisa levou à outra.
Quando eu tinha 20 anos de idade, estava em San Quentin. A “Mama Tried” é provavelmente uma criança de tudo isso. As canções dizem que eu sou a “única e velha criança rebelde”. Tive dois irmãos mais velhos, mas eles eram excelentes cidadãos, nunca foram para a prisão. Eu era o único rebelde.

Mamã era uma excelente mãe. Era uma cristã devota, ia à igreja duas vezes por semana. Ia à igreja a pé. Fui criada naquela atmosfera, e a mamã tinha as mãos cheias comigo. O meu papá morreu quando eu tinha 9 anos. Suponho que nunca o ultrapassei. Ele era um bom pai. Não há muitos bons papás por perto. Ele era um bom pai.

p>A primeira vez que fugi de casa, tinha 11 anos. Não estava a fugir de uma casa má, estava a correr para uma aventura.

Era um mundo completamente diferente na altura. Em todos os sentidos. O gás custava 15 cêntimos por galão. Os cigarros custavam 17 cêntimos o maço. Não havia auto-estradas, apenas estradas de duas faixas. E as estradas terminavam na periferia da cidade, por isso, se não se andava de comboio, ou se se tinha alguma coisa embarcada, não se recebia. Era um local de desova para uma canção campestre.

É verdade, como na canção, que eu estava na prisão quando tinha 21 anos. No entanto, não apanhei prisão perpétua sem liberdade condicional, essa é a única linha que não é factual. Eu não escrevi nenhuma canção na prisão que valesse a pena gravar. Escrevi “Mama Tried” depois de ter saído. Não foi culpa da Mamã que eu tenha ido para a prisão. Ela fez tudo bem. Ela era uma mãe maravilhosa. Não bebia, não fumava. Podia contar com ela. Se tivesses estado fora três semanas e aparecesses, ela arranjava-te o melhor pequeno-almoço que alguma vez tomaste.

p>Ela era uma pessoa tímida. Quando lhe toquei a canção, ela disse que as senhoras da igreja a iriam arrasar com ela. Eu disse-lhe que queria comprar-lhe um Lincoln com o meu primeiro pagamento de royalties. Ela disse: “As senhoras na igreja gozarão comigo se me comprarem um Lincoln. Quero um Dardo Dodge”

Gravámo-lo em 1968 no Capitólio, em Hollywood. Ken Nelson e Fuzzy Owen produziram. Fizemos um bom trabalho; esse disco ainda soa único. Começa com James Burton num duplo, com a picada de dedos. Eu estava a tentar aterrar algures entre Peter, Paul & Mary and Johnny Cash. Então começámos com a guitarra folclórica, e muita harmonia vocal cantada por Bonnie Owens e Glen Campbell. Glen tocou guitarra rítmica e cantou uma harmonia de tenor.

Todos os passos foram feitos num só take, cantando ao vivo no estúdio com a banda. Adorei estar lá. Penso poder dizer, sem dúvida, que a Capitol Records foi o estúdio de gravação de estreia no mundo. Tem uma câmara de eco físico que soa bem. Todas as grandes vozes que se podem imaginar, desde Nat Cole a Linda Ronstadt, gravadas ali, usando aquele eco.

Foi uma sessão matinal. Eles foram muito rápidos e regimentais acerca daquele estúdio. Entraram às 10, tiveram de sair de lá por 1, porque outra pessoa estava a entrar. Encontrávamo-nos todos numa cafetaria ao fundo da rua e preparávamos a nossa gravação. Depois passávamos por cima dos nossos amplificadores e guitarras, corríamos lá e instalávamo-nos, e gravávamos três discos número um em três horas.

Merle

É o meu arranjo. Disse ao James para tentar a picada do dedo para nos trazer para o ritmo. Teríamos os melhores músicos que houvesse. James Burton era o melhor guitarrista, por isso fomos a Burton. Glen Campbell fazia parte do grupo, e Jimmy Gordon na bateria. Jerry Ward no baixo eléctrico. Norman Hamlet na guitarra de aço.

A canção é curta – 2:16. Naqueles dias, tínhamos de fazer discos com menos de três minutos para a rádio. E tinha um pouco de Batman a lamber.

Aquela canção – e aquele disco – parece-me ter estado sempre lá.

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